Quando defendemos o uso de facas por seguranças, sejam estes de organizações públicas ou privadas, levantamos um tema que pode provocar grande polêmica, afinal, é uma ferramenta pouquíssima utilizada, porém, de grande utilidade que até hoje não foi reconhecida.

O Brasil atravessa um momento de crise de segurança alarmante. A política atual de desarmamento privou o cidadão comum de ter condições de defesa contra a violência. Ao Estado ficou a atribuição de garantir plenamente a tranqüilidade da população, porém, o que se vê na imprensa é exatamente o oposto. O crime organizado desafia nossas instituições, com ataques a delegacias e quartéis. A violência em algumas cidades toma proporções de um conflito militar onde até mesmo tropas do Exército são chamadas para garantir a ordem. No Haiti, há uma força de paz da ONU, onde tropas Brasileiras atuam com grande mérito, executando atividades policias junto à população civil.

O treinamento estabelecido na Lei 7.102 que regulamenta a atividade do profissional de segurança privada está claramente defasada em relação à suas necessidades. Muitas unidades policiais se encontram em estado de abandono sem ter equipamento, pessoal e treinamento adequado.

Agentes de segurança devem utilizar todos os recursos para garantir a sua integridade e de das pessoas sob sua proteção. A faca é talvez o instrumento mais útil que um segurança ou agente da lei poderia portar. Neste contexto devemos estabelecer uma filosofia que estabelece não apenas ter o equipamento, mas principalmente treinar, preparar e identificar o melhor momento de seu emprego.

Podemos estabelecer claramente alguns pontos para justificar o emprego da faca para agentes de segurança:

Primeiramente devemos pensar que conhecer o risco é estar preparado para enfrentá-lo. A Faca é um instrumento largamente utilizado, podendo ser encontrada em qualquer situação. Foi noticiado a pouco tempo a morte de um guarda civil metropolitano, em ação contra ambulantes no Centro de São Paulo. Podemos encontrar este tipo de ameaça a qualquer momento – pessoas em surto psicótico, brigas entre vizinhos ou até mesmo atendendo uma ocorrência de violência doméstica. O aumento do emprego da faca em situações de violência tem uma tendência de aumentar, principalmente se houver sucesso em relação à Lei do Desarmamento. Uma pessoa treinada no manejo de facas tem melhores condições de executar uma defesa adequada contra este tipo de ameaça.

Um grande diferencial em relação a o treinamento com facas é sua versatilidade. Suas técnicas são facilmente adaptadas a um bastão, caneta, lanterna ou até mesmo com as mãos vazias.

Outro ponto é sua simplicidade. Recentemente conduzi um treinamento para um grupo de idosos que não poderiam treinar técnicas tradicionais de defesa pessoal. A maior parte do grupo tinha dificuldades de locomoção e grande perda de massa muscular. Ficou claro à medida que evoluíam que não havia melhor ferramenta para sua defesa, em apenas três meses de treinamento já demonstravam ter condições de defesa que não alcançariam em 10 anos de artes marciais. Suas técnicas são simples, pois trabalham movimentos instintivos, com grande ênfase na economia de movimentos.

A faca é um equalizador, nivelando uma pessoa fraca à outra mais forte, melhor preparada ou contra múltiplos adversários.

A faca é um instrumento multiuso, com mais de 20 aplicações distintas que oferecem mais opções no uso da força por agentes de segurança. Podemos cortar, estocar, raspar, golpear, beliscar, apertar, empurrar, enfim, dominar, controlar, conduzir, incapacitar ou imobilizar nosso adversário quando necessário.

A faca tem uma portabilidade que não encontra paralelo em nenhuma outra ferramenta. Lembro-me de uma ocorrência onde duas mulheres que haviam sido seqüestradas estavam sendo mantidas presas amarradas em uma arma. Nenhum policial tinha uma faca para soltá-las. A tonfa ou o cassetete pode ser facilmente esquecido dentro do carro, mas a faca pode estar em um cinto tático, dentro do bolso da calça, em uma bainha sub-axilar, no pescoço, na perna, nas costas, dentro da calça, em praticamente qualquer parte do corpo.

A ocultabilidade da faca é de grande valia, para agentes de segurança que não devem causar constrangimento ao cliente. De maneira discreta pode ser usada com um terno ou short, acompanhando um VIP em uma festa ou em sua caminhada diária.

A faca estabelece uma vantagem psicológica em relação ao adversário. Interiorizamos desde pequenos o medo por esta ferramenta que a vida inteira foi apresentada como um objeto perigoso que serve para “cortar”. Este ponto é importante para levantar um outro aspecto importante que é o treinamento correto para superar restrições e barreiras psicológicas em relação a seu emprego. É muito mais fácil puxar o gatilho de uma arma de fogo do que utilizar uma faca. Seu emprego não é impessoal e necessita de uma proximidade que muitas pessoas mal treinadas não conseguem suplantar. Treinar movimentos é fácil, utilizá-los em uma situação real não.

A faca é um instrumento mais confiável que a arma de fogo, tem menos peças que possam apresentar problemas de mau funcionamento. Da mesma forma não deixará o agente de segurança sem munição em uma situação de confronto.

EMPREGO TÁTICO

Locais de aglomeração pública são contra indicados para a utilização de armas de fogo. O uso de bastões ou cassetetes pode ficar impossível quando agentes se encontram cercados, em espaços confinados. A faca não é um instrumento apenas para cortar ou estocar, podendo ser utilizada como arma contundente em ataques a curtíssima distância. Um agende de segurança pode ser mais facilmente desarmado e ser morto com sua própria arma de fogo. A faca é uma ferramenta silenciosa podendo ser utilizada para dominar uma sentinela em situações de resgate de reféns. Viajar com armas, principalmente para agente de segurança privada é um pesadelo logístico, para conseguir autorizações, documentos e procedimentos de segurança, que passam por burocracias intermináveis. A faca pode transitar com maior facilidade seja no contexto urbano ou rural.

CONCLUSÃO

A faca oferece um gama enorme de vantagens. É um equipamento muito comum utilizado por policiais americanos por suas inúmeras aplicações e estas aplicações tem como principal benefício a preservação da vida do agente de segurança. Como ressaltado no texto é importante lembrar que não é qualquer “especialista” em artes marciais tem condições de treinar o agente de segurança no uso correto da ferramenta, seja em seu emprego técnico, tático ou psicológico